Conversas com economistas brasileiros
| |
Ciro Biderman
Luis Felipe L. Cozac
José Marcio Rego
Prefácio de Pedro Malan
528 p. - 16 x 23 cm
ISBN 978-65-5525-186-9
2024
- 1ª edição
O conjunto das entrevistas constitui importante leitura e inestimável contribuição para uma radiografia, não só do processo de formação da profissão no Brasil na segunda metade do século XX, como, também, da situação em que se encontra, hoje, a profissão no país.
Há neste livro o depoimento de cinco ex-ministros de Estado (Campos, Furtado, Delfim, Simonsen e Bresser-Pereira), dois ex-presidentes do Banco Central (Pastore e Arida), dois ex-presidentes do BNDES (Bacha, Arida), dois ex-diretores do Banco Central (Lara Resende, Arida), um ex-chefe de Assessoria Econômica e um outro assessor do ministro da Fazenda (Belluzzo e Paulo Nogueira à época de Funaro). Três dos entrevistados foram deputados federais (Campos, Delfim, Conceição).
O leitor verificará por si que há neste livro um riquíssimo material para reflexão, para o estudo do papel da retórica (como arte da persuasão) na profissão, e para uma avaliação, por parte de cada um, da importância (ou falta de importância) que os economistas atribuem a si próprios e à sua profissão ou à sua “ciência”, tanto no Brasil como no mundo.
Pedro Malan
Texto orelha
Este livro trata de um tema fascinante: a gênese, discussão, implementação e decadência de ideias econômicas, do ponto de vista de alguns dos mais importantes economistas no último meio século no Brasil. A fonte de inspiração é o livro de Arjo Klamer, Conversas com economistas, de 1983, que fez enorme sucesso nos Estados Unidos. Ao contrário dos economistas escolhidos por Klamer, contudo, os treze economistas brasileiros presentes neste livro estão longe de terem optado por usar suas torres de marfim como campos de batalha. Com a única exceção de Eduardo Giannetti (por enquanto?), todos passaram pelo governo e se envolveram, de uma forma ou de outra, em projetos políticos. Alguns com extraordinária dose de poder, como Campos e Delfim, outros com enorme capacidade de oposição, como Maria da Conceição Tavares. Como diz Persio Arida em seu depoimento, “a política econômica é antes de mais nada política” e “não há política nem teoria que não tenha sido baseada em uma trama complexa de relações pessoais”. Este livro ajuda a recuperar tanto as tramas das relações pessoais, quanto a caminhada política das ideias econômicas. Neste sentido, seu interesse ultrapassa em muito o da academia. As biografias dos entrevistados, tanto quanto a história das escolas de Economia no Brasil, jamais estiveram dissociadas da disputa concreta pelo poder. Do grupo que cresceu no antigo BNDE, fundado em 1952, uma vertente à esquerda, formada pela CEPAL, chegou ao poder com Celso Furtado, no governo João Goulart. Outra, à direita, acompanhou Campos, depois do golpe militar de 64. A Universidade de São Paulo foi ao poder com Delfim Netto; a Fundação Getúlio Vargas, do Rio, com Simonsen; a Unicamp e a PUC do Rio com Funaro, no governo Sarney; a FGV de São Paulo com Bresser-Pereira, logo depois. A PUC do Rio teve uma segunda chance — coisa rara na história — com o Plano Real de Fernando Henrique Cardoso. Duas discussões econômicas dominaram este meio século no Brasil, o desenvolvimento e a inflação, e a capacidade de persuasão acadêmica jamais esteve desligada dos sucessos e dos fracassos não só das políticas econômicas resultantes destas ideias, como da força política dos grupos a elas associados. Uma mesma geração conviveu com o entusiasmo e a decepção com o modelo de substituição de importações, com a crença na funcionalidade da inflação como alavanca do desenvolvimento e o horror à hiperinflação, com a fé no gradualismo anti-inflacionário, seguida pelo namoro com a ortodoxia, seguida pela heterodoxia da inflação inercial. Cada uma destas discussões é revisitada por seus autores e opositores. Mais do que uma fascinante reconstrução da história das ideias, o que as entrevistas mostram é que em Economia os debates podem se prolongar por décadas sem consensos definitivos. Apesar do fosso que separa muitos dos entrevistados, a maioria está unida por um traço de ecletismo metodológico e de ceticismo em relação à Economia como ciência (a diferença entre a Física e a Economia, compara Delfim, é que, na Economia, o átomo pensa). Outra quase unanimidade é a escolha geral de dois livros como os mais importantes clássicos do pensamento econômico no Brasil: Princípios de economia monetária, de Eugênio Gudin, e Formação econômica do Brasil, de Celso Furtado. Um na raiz da inspiração dos liberais e conservadores, outro na origem dos estruturalistas e marxistas. Existe uma escola própria de pensamento econômico no Brasil? Pastore, Eduardo Giannetti e Bacha acham que não. Os autores do livro sugerem que duas ideias, a teoria da dependência e a inflação inercial, foram contribuições originais com alguma repercussão internacional. Muitos dos entrevistados reagem com vigor à esta ideia. Campos, por exemplo, diz que a teoria da dependência de Fernando Henrique Cardoso “sempre me pareceu bastante ridícula, primitiva mesmo”. O fato é que estes economistas ajudaram a escrever e transformar a história do país neste século. Acima de tudo, este livro proporciona um enorme prazer e estímulo intelectual. Celso Pinto
Sobre os autores
Ciro Biderman é professor do doutorado em Administração Pública da FGV e diretor do FGV-Cidades, com pós-doutorado em Economia Urbana (MIT) e doutorado em Economia (FGV). Foi chefe de Gabinete da SPTrans e Diretor de Inovação do Município de São Paulo, na gestão Haddad, e é especialista em políticas públicas urbanas com ênfase em transportes, habitação e uso do solo.
Luis Felipe Lebert Cozac é economista pela FEA-USP, graduado em Administração Pública, e mestre e doutor em Economia de Empresas pela FGV de São Paulo. Foi professor universitário e ocupou cargos diretivos em grandes companhias do mercado segurador e varejista, além de ter trabalhado na Secretaria da Fazenda de São Paulo. Atualmente é sócio na consultoria estratégica Partenariat.
José Marcio Rego é economista pela FEA-USP, graduado em Administração Pública. É mestre em Ciência Política pela UNICAMP e em Finanças Públicas pela FGV, e doutor em Economia de Empresas pela FGV de São Paulo e em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, onde foi professor titular. É professor na FGV e membro do conselho editorial da Revista de Economia Política.
Veja também
|