O Antropoceno e o pensamento econômico
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José Eli da Veiga
224 p. - 14 x 21 cm
ISBN 978-65-5525-226-2
2025
- 1ª edição
Autor de O Antropoceno e a Ciência do Sistema Terra (2019) e O Antropoceno e as Humanidades (2023), José Eli da Veiga, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, volta-se neste terceiro livro para as interações entre esta nova Época, em que os humanos passaram a ser o principal vetor de alterações na biosfera, e a Economia.
A obra parte das contribuições dos primeiros pensadores que analisaram os limites do crescimento econômico em relação ao meio ambiente, ainda nos anos 1950 e 1960, como Kenneth Boulding, Nicholas Georgescu-Roegen e Herman Daly, passando pela crescente institucionalização dos estudos da área nas décadas seguintes, como vemos nos relatórios Limits to Growth (Clube de Roma, 1972) e Our Common Future (ONU, 1987).
O ponto de chegada é o complexo debate atual sobre como devemos no posicionar com relação aos crescentes desafios que a crise climática e o uso abusivo de recursos naturais colocam para a sobrevivência da humanidade. Se uns advogam pelo simples “decrescimento” e outros acreditam que a tecnologia irá nos salvar, este livro propõe compromissos mais realistas, que envolvem desde a incorporação pelos cursos de Economia dos fatores ambientais em suas equações, até um novo olhar para os conceitos que poderão pautar as ações de governança global, como “entropia” e “economia verde” — tudo isso sem perder de vista o objetivo de entregarmos um mundo com liberdade e qualidade de vida para as gerações futuras.
Texto orelha
Como o pensamento econômico pode ajudar na busca de soluções para os problemas socioambientais contemporâneos? Como pode contribuir para a sustentabilidade do desenvolvimento? Duas tendências polarizam os debates sobre os condicionantes ecossistêmicos do crescimento econômico: o anseio de esverdeá-lo e a ambição de descartá-lo. Já este livro argumenta em favor de posicionamentos de meio-tom, do tipo “pós” ou “além” do crescimento. Em vez de abraçar o objetivo de crescimento ou decrescimento a priori, as sociedades deveriam buscar apoio democrático para mudanças institucionais e políticas que tenham um potencial desestabilizador, com a ambição de que a melhoria do bem-estar humano e a busca por sociedades mais justas se desacople da extração de recursos naturais e degradação de ecossistemas. Ao passear por contribuições da Economia Ecológica, Evolucionária, da Complexidade e até da Comportamental, este livro mostra que para superar sua trágica obsolescência e se tornar mais adequado ao Antropoceno, o pensamento econômico deve tornar-se “agnóstico” em relação ao crescimento do produto agregado. Com rigor analítico e escrita clara, o autor revisita os trabalhos de pioneiros como Kenneth Boulding (1910-1993), Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994) e Herman Daly (1938-2022), que lançaram os fundamentos da Economia Ecológica ao reconheceram a interdependência entre os processos econômicos e ecológicos, e desafiarem as premissas que ignoravam os limites ecossistêmicos ao crescimento da produção e consumo. Esses pioneiros destacaram a relevância da entropia para a economia. Ao importar matéria do ambiente e organizá-la de modo que possa ser utilizada, a produção é uma oposição local e temporária à lei da entropia. E este livro demonstra que tais ideias, frequentemente negligenciadas, tornaram-se ainda mais relevantes nesta nova época. Mesmo quem já tiver familiaridade com a Economia Ecológica encontrará bela surpresa ao descobrir que Kenneth Boulding foi o primeiro economista a pressentir o Antropoceno, ainda na década de 1950. Um pensamento econômico adequado à nova época deverá também reduzir a importância que atribui à ingênua noção de equilíbrio, em favor da evolução e da complexidade. Afinal, as crises do clima, da perda de biodiversidade, da insegurança alimentar e hídrica interagem entre si e com as desigualdades socioeconômicas, se agravando mutuamente. O que torna ineficazes as ações isoladas baseadas apenas em perspectiva microeconômica. O pano de fundo dessa teia de crises é o crescimento acelerado da produção e consumo desde meados do século passado, que levou a um consumo excessivo — e extremamente desigual — de recursos naturais e a consequente degradação dos ecossistemas. Portanto, a adequação do pensamento econômico ao Antropoceno dependerá também de uma perspectiva que compreenda os determinantes não apenas tecnológicos, mas sobretudo institucionais e políticos das mudanças sistêmicas. E é partindo da compreensão da complexidade da interação economia-natureza e dos freios ecossistêmicos ao crescimento que este livro amplia muito os horizontes do debate econômico. Andrei Cechin
Sobre o autor
José Eli da Veiga é professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). Por trinta anos (1983-2012) foi docente do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP), onde obteve o título de professor titular em 1996. É colunista do jornal Valor Econômico, da revista Página22 e da Rádio USP. Tem 29 livros publicados e mantém uma página web: www.zeeli.pro.br. Pela Editora 34 lançou: A desgovernança mundial da sustentabilidade (2013), Para entender o desenvolvimento sustentável (2015) e O Antropoceno e a Ciência do Sistema Terra (2019).
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