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Republicanas: Atenas, Roma, Florença e a atualidade do republicanismo
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Sérgio Cardoso
Colaboração de Felipe Faria Camargo
368 p. - 14 x 21 cm
ISBN 978-65-5525-262-0
2025
- 1ª edição
Poucos termos frequentam mais assiduamente o léxico dos políticos e da mídia especializada do que “república” e “democracia”. Entretanto, o que esses termos designavam precisamente em sua origem na Grécia antiga, os valores que passaram a representar na República Romana reinventada, a carga de conflitos que incorporaram no Renascimento e o sentido crucial, e libertário, que podem desempenhar no presente permanecem em sua maior parte desconhecidos.
Em Republicanas: Atenas, Roma, Florença e a atualidade do republicanismo, Sérgio Cardoso, professor sênior do Departamento de Filosofia da USP, discute de forma clara e sintética os principais momentos de formação desses conceitos e do ideário que os cerca. Do entendimento distinto de Platão e Aristóteles, passando pelas contribuições originais de Políbio e de Cícero em Roma, detendo-se no Renascimento — particularmente em Maquiavel, de cuja obra o autor é um de nossos mais finos intérpretes — e abrindo-se para a Modernidade, Republicanas desemboca, em seus capítulos finais, no debate fundamental acerca dos sentidos da república e da democracia na atualidade, sem deixar de interrogar um velho conhecido das arenas latino-americanas, o populismo, que hoje ressurge em escala mundial.
Ao mesmo tempo que dialoga com inúmeros autores clássicos e contemporâneos, Sérgio Cardoso se aventura a pensar o republicanismo para além do quadro das democracias neoliberais, quando o elemento popular, longe de se reduzir ao número dos votos, constitui o motor que, por meio dos movimentos sociais, dá vigor à vida política, espelhando em suas demandas a busca por Leis e Direitos.
Texto orelha
Qual a natureza da república? Como podemos distingui-la da democracia? De que maneira podemos apreender sua atualidade? Por que motivos sua história nos interpela? Sérgio Cardoso, um dos mais refinados pensadores políticos de nosso país, tem se debruçado sobre essas questões há décadas e, para nossa sorte, reuniu parte importante de suas reflexões neste livro.
O ponto de partida é a Grécia Clássica e as filosofias de Platão e Aristóteles, que, no século IV a.C., inauguraram as discussões sobre a república no quadro de uma teoria das formas de governo. A república, nos mostra Sérgio Cardoso, é pensada por eles como politeia, o modo pelo qual a cidade se ordena politicamente, quer dizer, como são distribuídas as magistraturas e quem tem acesso a elas, e com qual finalidade. No centro dessas primeiras elocubrações está o conceito de “governo misto”, cuja visada prática consiste em assegurar as condições para que a cidade possa de fato atingir sua finalidade: a excelência humana na realização do bem comum.
Séculos depois, em Roma, Políbio e Cícero darão continuidade a essa reflexão, reformulando o conceito de república e revitalizando a noção de governo misto, dando-lhe um novo sentido e alcance. No elogio polibiano da constituição romana ou na crítica de Cícero à decadência dos costumes políticos de seu tempo, a filosofia política grega encontra uma nova língua, que será transmitida aos homens do Renascimento italiano, em especial Leonardo Bruni e Maquiavel.
Sérgio Cardoso nos mostra que Bruni será um bom herdeiro dessa tradição clássica, e lhe dará ares propriamente modernos, desvencilhando a reflexão sobre a cidade e seu governo de qualquer laivo moralizante, fazendo a economia da “fundação metafísica” da virtude política em favor de um conceito estritamente político de cidadania. A modernidade de Bruni abre o caminho para Maquiavel, que poderá denunciar, sempre em busca da “verdade efetiva das coisas”, a ilusão da boa sociedade que se esconde por detrás das teorias do regime misto. A passagem pelo Renascimento italiano ocupa um lugar crucial neste livro. Com Bruni e Maquiavel, Sérgio Cardoso pode explicitar as notáveis diferenças entre o republicanismo moderno e o antigo.
Mas Maquiavel é o autor fundamental porque produz uma inovação muito mais profunda na história do pensamento republicano. O florentino reconfigura a cidade, assumindo que a divisão social não somente é irresolúvel, mas é também estruturante e, fato de enorme relevância, ele redimensiona o papel do povo, deixando este de ser entendido como uma parte da cidade que reivindica poder para se tornar, graças a seu desejo de não dominação, o “único sujeito das leis”, aquele que assegura a introdução dos “universais jurídico-políticos” e, com isso, se torna o sustentáculo da própria república.
Maquiavel, acredita Cardoso, abre a via que nos conduz ao cerne da república, entendida como o regime das leis onde a liberdade ganha seu sentido propriamente político. A lição maquiaveliana nos ajuda a compreender (e ultrapassar) o horizonte em que se move o pensamento político clássico e também nos auxilia a responder a algumas das dificuldades da experiência e do pensamento democráticos atuais.
Sérgio Cardoso, sempre com rigor e discernimento, faz o melhor uso da obra do florentino e nos guia, com segurança, nesse percurso histórico-conceitual pelo republicanismo.
Helton Adverse Professor Titular do Departamento de Filosofia/UFMG
Sobre o autor
Sérgio Cardoso é Professor Sênior de Filosofia Política na Universidade de São Paulo, onde leciona no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas desde 1976. Graduou-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e ingressou na Pós-Graduação na Universidade de São Paulo, em 1972, sob a orientação da professora Marilena de Souza Chaui. Realizou, em 1979, seu “doutorado de 3º ciclo”, sob a direção do professor Claude Lefort, continuando seus estudos na França até 1982, como bolsista do governo francês. Obteve o título de Doutor pela Universidade de São Paulo em 1991, com tese sobre a Crítica da Antropologia de Pierre Clastres. Especializou-se posteriormente no estudo da filosofia política e ética de autores do Renascimento italiano e francês, como Maquiavel e Montaigne, sobre os quais tem orientado mestrados e doutorados, e participado de vários grupos de trabalho no Brasil e no exterior. Atualmente seus estudos principais estão voltados para a investigação da grande tradição “republicana” da filosofia política, dos Antigos aos modernos. É autor de Maquiavelianas: lições de política republicana (Editora 34, 2022).
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