Paul Celan
Edição bilíngue
208 p. - 14 x 21 cm
ISBN 978-65-5525-076-3
2021
- 1ª edição
Edição conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Sexto livro de Paul Celan, e o penúltimo que publicou em vida, Ar-reverso (Atemwende, 1967) é, como escreveu o autor em carta à esposa, a artista Gisèle Celan-Lestrange, “realmente a coisa mais densa que já escrevi, e também a mais inapreensível”. É, de fato, uma verdadeira radicalização de seu projeto poético desenvolvido até então.
Escrito num período conturbado, entre 1963 e 1965, quando o escritor esteve internado algumas vezes para tratamentos psiquiátricos, o livro dialoga com seu famoso discurso O meridiano, que proferira ao receber o prêmio Georg Büchner, em 1960. Nele, Celan reflete sobre a tendência do poema ao emudecimento, o papel fulcral do outro no fazer poético e formula, pela primeira vez, o termo com que nomeará a obra: “Poesia: pode significar um ar-reverso”.
Poeta judeu que sofreu na própria pele a barbárie da Shoah, Celan respondeu como nenhum outro ao desafio de “fazer poesia depois de Auschwitz”, reinventando poeticamente a língua de seus algozes para escavar nela uma realidade própria e redentora: “Ampliar a arte? Não. Entra antes com a arte no que em ti próprio há de mais acanhado. E liberta-te”.
A tantos desafios que esta obra impõe, o tradutor Guilherme Gontijo Flores responde também com rigor e rara inventividade: “(Eu te conheço, a toda recurvada,/ eu, transpassado, a ti me submetera./ Onde arde a voz por nós testemunhada?/ Tu — tão real. Eu — tão quimera)”.
Sobre o autor
Paul Celan, pseudônimo de Paul Antschel, nasceu em 1920 em Tchernivtsi, na Romênia (cidade hoje pertencente à Ucrânia). Sua família pertencia a uma comunidade judaica que prosperara durante os 150 anos de domínio austríaco na região. Celan cresceu falando alemão em casa e romeno na escola. Também entendia iídiche e mais tarde se tornaria fluente em francês, russo e ucraniano, entre outros idiomas. Mas foi o alemão a língua que escolheu para escrever sua obra poética. Em 1939, com o início da guerra, Celan abandona os estudos de medicina iniciados em Tours, na França, e se matricula em filologia românica na Universidade de Tchernivtsi. Em 1940, como resultado do pacto entre Hitler e Stálin, Tchernivtsi é ocupada por tropas soviéticas, e no ano seguinte, com o colapso do pacto, pelas forças alemãs e romenas. Seus pais são deportados para um campo de concentração alemão onde morrem tragicamente em 1942. O próprio Celan passa por uma série de campos de trabalho ao longo de 18 meses, até a libertação da Romênia pelo Exército Vermelho em 1944. Após a guerra, Celan emigra para Bucareste, onde trabalha como tradutor e leitor numa editora e começa a publicar seus poemas e traduções. Em 1947, após breve estada em Viena, onde trava amizade com a poeta Ingeborg Bachmann, se estabelece em Paris, onde completa os estudos em filologia e literatura e se torna professor-leitor de alemão na École Normale Supérieure, cargo que manterá até o fim da vida. Em 1952, casa-se com a artista gráfica Gisèle Lestrange, com quem terá um filho, Eric, nascido em 1955, mesmo ano em que se torna cidadão francês. Recebe o Prêmio de Literatura da Cidade de Bremen em 1958 e o Prêmio Georg Büchner em 1960. Além da atividade literária, continua realizando numerosas traduções do francês, russo, italiano, romeno, português e hebraico, de autores como Rimbaud, Valéry, Michaux, Mandelstam, Blok, Shakespeare, Emily Dickinson, Cioran e Fernando Pessoa. Em 20 de abril de 1970, Paul Celan comete suicídio atirando-se no rio Sena, em Paris. Em vida publicou sete volumes de poesia: A areia das urnas (1948), Papoula e memória (1952), De limiar em limiar (1955), Grade da palavra (1959), A rosa de ninguém (1963), Ar-reverso (1967) e Sóis de fio (1968). Deixou ainda três livros publicados postumamente: Compulsão de luz (1970), Partida da neve (1971) e Sítio do tempo (1976).
Sobre o tradutor
Guilherme Gontijo Flores nasceu em Brasília, em 1984. É poeta, tradutor e professor de latim na Universidade Federal do Paraná. Publicou os livros de poesia brasa enganosa (Patuá, 2013), Tróiades (Patuá, 2015), l’azur Blasé (Kotter/Ateliê, 2016), ADUMBRA (Contravento, 2016), Naharia (Kotter, 2017), carvão : : capim (Editora 34, 2018), avessa: áporo-antígona (Cultura e Barbárie/quaseditora, 2020) e Todos os nomes que talvez tivéssemos (Kotter/Patuá, 2020), além do romance História de Joia (Todavia, 2019). Como tradutor, publicou, entre outros: A anatomia da melancolia, de Robert Burton (4 vols., Editora UFPR, 2011-2013, vencedor dos prêmios APCA e Jabuti de tradução), Elegias de Sexto Propércio (Autêntica, 2014, vencedor do Prêmio Paulo Rónai de tradução, da Fundação Biblioteca Nacional), Fragmentos completos de Safo (Editora 34, 2017, vencedor do Prêmio APCA de tradução), Epigramas de Calímaco (Autêntica, 2019) e Pantagruel e Gargântua, de Rabelais (Editora 34, 2021). Foi um dos organizadores da antologia Por que calar nossos amores? Poesia homerótica latina (Autêntica, 2017). É coeditor do blog e revista escamandro: poesia tradução crítica). Nos últimos anos vem trabalhando com tradução e performance de poesia antiga e participa do grupo Pecora Loca.
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