Busca rápida
digite título, autor, palavra-chave, ano ou isbn
 
Arte e arquitetura
 

 R$ 69,00
         




 
Informações:
Site
site@editora34.com.br
Vendas
(11) 3811-6777

vendas@editora34.com.br
Assessoria de imprensa
imprensa@editora34.com.br
Atendimento ao professor
professor@editora34.com.br

A cidade das colunas

 

Alejo Carpentier

Tradução de Samuel Titan Jr.
Ilustrações de Paolo Gasparini
Fotografias de Paolo Gasparini

Projeto gráfico de Raul Loureiro


80 p. - 15 x 22,5 cm
ISBN 978-65-5525-199-9
2024 - 1ª edição

A certa altura de A cidade das colunas, ao mencionar o efeito provocado pela retirada de um tapume no centro velho de Havana, Alejo Carpentier nota de passagem: o que se descortinava aos olhos era uma “ágora entre mangues, praça entre matagais”. Nesse registro, em que um elemento primordial da pólis grega surge imerso em outra geografia, o escritor sintetiza o profundo deslocamento que a ocupação do Novo Mundo implicou, a seu ver, para a cultura do Ocidente — tema que ele mesmo não deixaria de tratar em algumas das peças de ficção mais estupendas do século XX, como O reino deste mundo (1949), Os passos perdidos (1953), O século das luzes (1962), O concerto barroco (1974) e outras mais.

À primeira vista, A cidade das colunas pretende tão só apresentar ao leitor certas constantes da arquitetura de Havana que conferiram à cidade sua feição inconfundível. O que se descobre nestas páginas, porém, é muito mais: em cinco breves capítulos, elas exemplificam com exatidão o método do escritor, no qual um anônimo mestre de obras cubano é contraposto a Le Corbusier, o tronco de uma palmeira convive com colunas dóricas, uma figura de retábulo hispânico é vizinha de um herói de Racine. Por meio desses cortes e aproximações, Carpentier promove uma subversão de valores e uma defesa luminosa da mistura e da mestiçagem que ele enxerga no cerne da experiência antilhana e, por extensão, latino-americana.

Publicado originalmente em 1964 com doze fotografias de Paolo Gasparini, o texto de Carpentier vem à luz em sua edição brasileira acompanhado por 42 imagens em preto e branco do fotógrafo italiano — contraponto gráfico certeiro para este ensaio que tem o andamento de um poema.

 

Alberto Martins


Texto orelha

No início da década de 1960, Alejo Carpentier descreveu-se como “transeunte infatigável” de Havana, cidade que lhe parecia acolher “todos os estilos imagináveis”. Suas andanças vinham da juventude, de quando abandonara os estudos de arquitetura para se dedicar à escrita e publicara suas primeiras crônicas urbanas. Gastando a sola dos sapatos na Cidade Velha e no Vedado, o jovem Carpentier fazia duas coisas de uma vez: radicava sua obra incipiente em sua cidade de adoção, ele que, filho de pai francês e mãe russa, nascera em Lausanne, em 1904; e transplantava para as Antilhas a tradição moderna e francesa do poeta‑flâneur, que vinha de Baudelaire e que ressurgia então no culto surrealista da experiência vivida nas ruas.


E, de fato, Havana viria a ocupar lugar central em sua obra, por efeito de um tropismo que os muitos anos longe de Cuba não puderam mitigar. Ninguém diria, por exemplo, que O cerco, romance de 1956, foi escrito integralmente durante o exílio em Caracas, tão vívida é a evocação da capital cubana, de suas ruas e edifícios, seu ritmo, seus odores e rumores. E quem poderia esquecer a imagem de Havana sob o sol inclemente, logo nas primeiras páginas de O século das luzes, de 1962? Vista da barca fúnebre que vem voltando pela baía, a cidade mais parecia “um gigantesco lampadário barroco” de cristais coloridos entre domos, arcadas e “colunas altaneiras” fincadas na lama dos trópicos…


Esse amor por Havana, Carpentier cristalizou-o neste ensaio esplêndido que é A cidade das colunas. Escrito após o retorno do autor a Cuba, em 1959, o texto foi publicado pela primeira vez em 1964 e novamente em 1970, sempre ao lado das imagens que o fotógrafo Paolo Gasparini realizou em Havana entre 1961 e 1964. O ensaio de Carpentier destila a alegria do reencontro e o entusiasmo dos primeiros anos da revolução, ao mesmo tempo que recolhe o saber de muitas décadas de contemplação e reflexão. Não se espere, porém, uma narrativa histórica: trata-se antes de isolar certas constantes que, por obra de simbioses e amálgamas, foram criando um “estilo sem estilo” que distingue Havana de outras cidades do continente americano. Para tanto, à maneira de um Neufert criollo, Carpentier estuda alguns elementos‑chave: as colunas, é claro; as diversas formas do ferro forjado, esteja ele ao rés do chão, à altura dos olhos intrusos da rua ou ainda, parede acima, portando lampiões ou separando vizinhos; as mamparas, divisórias internas que dizem muito sobre a casa antilhana; e, por fim, o medio punto, esse “enorme leque de cristais” que, encimando portas e janelas, deve negociar a partilha entre o que será domínio do sol ofuscante e o que será penumbra caseira.


Ao longo das páginas e das imagens, o leitor vai descobrindo as sucessivas camadas de A cidade das colunas: poema em prosa, estudo morfológico e também ensaio crítico. Pois não falta ao texto seu par de espinhos polêmicos. O elogio da mistura de estilos arquitetônicos de Havana serve afinal à crítica de certo prêt-à-porter hegemônico no século xx, ao qual se opõem aqui as noções gêmeas de mestiçagem e barroco. No horizonte de Carpentier, despontava a possibilidade estética e política de uma arte latino-americana capaz de fundir as feridas e as heranças do passado em uma nova liga, de têmpera moderna, autônoma e progressista. Miragem, talvez; mas miragem das mais inspiradoras.


Samuel Titan Jr.



Sobre o autor

Alejo Carpentier nasceu em Lausanne, na Suíça, em 1904, filho de pai francês e mãe russa, mas cresceu entre a recém-independente Cuba, para onde seus pais emigraram pouco depois de seu nascimento, e a França. Em 1920, começou a estudar Arquitetura em Havana, mas já no ano seguinte abandonou os estudos para se dedicar ao jornalismo, às letras e à militância política. Em 1928, perseguido pelo regime, fugiu para Paris, onde viveu até 1939 e onde lançou seu primeiro romance, ¡Ecué-Yamba-Ó! (1933). De volta a Cuba, publicou em 1944 Viagem à semente. Em 1945, porém, voltou a exilar-se por razões políticas, dessa vez na Venezuela. Em Caracas, escreveu O reino deste mundo (1949), Os passos perdidos (1953), O cerco (1956), Guerra do tempo (1958) e sua obra-prima, O século das luzes, concluída em 1958, mas publicada apenas em 1962. Em 1959, com o triunfo da revolução, voltou a Cuba, onde desempenhou diversas funções oficiais, em especial junto à Editora Nacional e ao Conselho Nacional de Cultura. Em 1964, publicou no México o volume Tientos y diferencias, que incluía o ensaio A cidade das colunas. Em 1966 voltou à França como diplomata vinculado à embaixada cubana em Paris, época em que publicou os livros Concerto barroco (1974), O recurso do método (1974), A sagração da primavera (1978) e A harpa e a sombra (1979). Em 1978, recebeu o Prêmio Cervantes. Faleceu em Paris, em 1980, e seus restos mortais foram enterrados no cemitério Colón, em Havana.



Sobre o fotógrafo

O ítalo-venezuelano Paolo Gasparini nasceu em Gorizia, perto de Trieste, em 1934. Começou a fotografar ainda em sua cidade natal, marcado pelo contato com a obra de Paul Strand e o cinema neorrealista italiano. Nos passos do irmão Graziano, arquiteto que se instalara em Caracas, partiu em 1954 para a Venezuela, país onde vive até hoje. Pouco depois de sua chegada, iniciou uma atividade intensa junto à imprensa local e à geração de arquitetos venezuelanos encabeçada por Carlos Raúl Villanueva. Em 1961, entusiasmado com a Revolução Cubana, transferiu-se para o país caribenho, onde permaneceu até 1965, trabalhando sobretudo com o escritor Alejo Carpentier; dessa colaboração nasceram as fotos que ilustram este livro, publicadas inicialmente em 1964 e, mais tarde, em seleção mais generosa no livro A cidade das colunas (1970). Exceto por um breve período de volta à Itália, Gasparini realizou o essencial de sua obra na Venezuela e na América Latina, fosse em meio a grandes projetos de documentação social, urbana e política do continente, fosse no âmbito do fotolivro, gênero em que assinou obras importantes como Para verte mejor, América Latina (1972), Retromundo (1986), Megalópolis (2000), El suplicante (2010), Karakarakas (2014) ou Fotollavero mexicano (2021).


Sobre o tradutor

Samuel Titan Jr. nasceu em Belém, em 1970. Estudou Filosofia na Universidade de São Paulo, onde leciona Teoria Literária e Literatura Comparada desde 2005. Editor e tradutor, organizou com Davi Arrigucci Jr. uma antologia de Erich Auerbach (Ensaios de literatura ocidental) e assinou versões para o português de autores como Adolfo Bioy Casares (A invenção de Morel), Charles Baudelaire (O Spleen de Paris), Gustave Flaubert (Três contos, em colaboração com Milton Hatoum), Jean Giono (O homem que plantava árvores, em colaboração com Cecília Ciscato), Voltaire (Cândido ou o otimismo), Prosper Mérimée (Carmen), Eliot Weinberger (As estrelas), José Revueltas (A gaiola) e Blaise Cendrars (Diário de bordo).


Veja também
Diário de bordo
20 poemas para ler no bonde
Poemas humanos

 


© Editora 34 Ltda. 2024   |   Rua Hungria, 592   Jardim Europa   CEP 01455-000   São Paulo - SP   Brasil   Tel (11) 3811-6777 Fax (11) 3811-6779