Somos todos canibais
Precedido de “O suplício do Papai Noel”
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Claude Lévi-Strauss
Projeto gráfico de Raul Loureiro
176 p. - 15 x 22,5 cm
ISBN 978-65-5525-118-0
2022
- 1ª edição
“Ampliemos o problema.” O convite discreto, que se lê a certa altura dos textos reunidos em Somos todos canibais, traduz a essência deste livro breve e precioso. Ao longo de mais de uma década, entre 1989 e 2000, Claude Lévi-Strauss colaborou com o jornal italiano La Repubblica, onde publicou dezesseis textos sobre temas da atualidade. Os ensejos eram os mais variados: uma notícia sobre processos judiciais, a doen¬ça da vaca louca, uma exposição de joias, a morte da princesa Diana, mas também a publicação de um novo livro do autor, um quadro de Poussin ou o quinto centenário da “descoberta” do Novo Mundo. Fosse qual fosse o ponto de partida, o antropólogo francês nunca se dava por satisfeito com proferir alguma verdade ex cathedra. Todo tema era digno de interesse e podia conduzir ao coração do fenômeno humano e cultu¬ral — desde que livrado do lugar-comum e formulado de maneira a evidenciar seu alcance pleno. “Ampliemos o problema”: longe de ser uma coleção de textos de circunstância, Somos todos canibais é uma introdução sucinta e brilhante ao estruturalismo como método de fazer perguntas avessas a respostas prontas.
Sobre o autor
Nascido em Bruxelas, em 28 de novembro de 1908, Claude Lévi-Strauss é um dos nomes máximos da antropologia no século XX. Concluídos os estudos de direito e filosofia em Paris, deu início a uma carreira docente que o levou em 1935 à recém-fundada Universidade de São Paulo. Ao longo de seus quatro anos no Brasil, voltou-se para a antropologia e iniciou-se no trabalho de campo com sua primeira esposa, a etnóloga Dina Dreyfus, por ocasião de duas expedições ao Brasil Central; seus encontros com os cadiuéus, os bororos e os nambiquaras foram cruciais para sua reflexão e seus trabalhos como americanista, conforme relataria mais tarde em Tristes trópicos, de 1955. De volta à França em 1939, Lévi-Strauss partiu em 1941 para o exílio nos Estados Unidos, onde lecionou na New School for Social Research, foi cofundador da École Libre des Hautes Études e adido cultural da embaixada francesa. Em Nova York, travou amizade e manteve intenso diálogo com o linguista russo Roman Jakobson, influência decisiva na cristalização de suas ideias sobre a estrutura das sociedades humanas e sobre o método das ciências sociais, que encontraram sua primeira aplicação sistemática em As estruturas elementares do parentesco, de 1949. Voltou à França em 1948, ao lado de Rose-Marie Ullmo, com quem teve seu primeiro filho, Laurent; em 1954, casou-se com sua terceira esposa, Monique Roman, especialista em história dos tecidos e mãe de seu segundo filho, Matthieu. Em Paris, Lévi-Strauss retomou a carreira universitária, primeiro na École Pratique des Hautes Études e, a partir de 1959, no Collège de France, onde fundou o Laboratório de Antropologia Social e dedicou-se à sistematização de seu pensamento, publicando livros decisivos como Antropologia estrutural (1958), O pensamento selvagem e O totemismo hoje (ambos de 1962) ou ainda Antropologia estrutural II (1973). A partir de 1964, deu início à publicação de uma de suas obras mais ambiciosas, a tetralogia Mitológicas, em que estendeu a aplicação de seu método estrutural à análise das mitologias ameríndias e levou à perfeição seu próprio estilo de prosa científica. Em 1973, dois anos após o lançamento do quarto e último volume, Lévi-Strauss foi eleito para a Academia Francesa. Dois anos mais tarde, em 1975, publicou A via das máscaras, tributo à impressão que lhe haviam causado, na década de 1940, as máscaras vistas no National Museum of the American Indian em Nova York; o livro era igualmente o primeiro de uma trilogia informal que se completou com dois novos estudos de mitologia ameríndia, A oleira ciumenta (1985) e História de Lince (1991). Ativo até o fim de seus dias, o antropólogo revisitou seus anos brasileiros no livro fotográfico Saudades do Brasil (1994). Claude Lévi-Strauss faleceu em Paris, em 30 de outubro de 2009.
Sobre a tradutora
Marília Scalzo nasceu em São Paulo, em 1960. Após estudos de letras e jornalismo, lecionou na Aliança Francesa e trabalhou como jornalista na Folha de S. Paulo e na editora Abril. É autora, entre outros, de Uma história de amor à música (São Paulo, Bei, 2012), em parceria com Celso Nucci. Além de Somos todos canibais, traduziu para a coleção Fábula os romances Viva! (2016) e Peste e cólera (2017), de Patrick Deville. Sua tradução mais recente é Samarcanda, de Amin Maalouf, publicada em 2021 pela editora Tabla.
Veja também
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