Marcel Schwob
Prólogo de Jorge Luis Borges
Projeto gráfico de Raul Loureiro
72 p. - 15 x 22,5 cm
ISBN 978-65-5525-036-7
2020
- 1a edição
Edição conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
No começo do século XIII, quando já se anuncia o malogro das Cruzadas, a Europa é sacudida por movimentos milenaristas a demandar novas expedições rumo ao Santo Sepulcro. Em 1212, duas colunas de gente simples — pueri — tomam o rumo de Marselha e Gênova, na esperança de cruzar o Mediterrâneo e abrir caminho até Jerusalém pela força da fé. O resultado, que não poderia ter sido mais trágico, logo se tornou a matéria-prima de que são feitos os mitos. Poucas décadas depois dos acontecimentos, já se cantava a gesta da Cruzada das Crianças: os pobres de 1212 tinham se convertido nas crianças — pueri, mais uma vez — da lenda.
Muitos séculos mais tarde, o escritor francês Marcel Schwob revisita a lenda em A cruzada das crianças, publicada originalmente em 1896. Não para reiterá-la com devoção ou refutá-la com cinismo, mas para exacerbar a semente de alucinação que dormitava nas fontes medievais. À maneira de um espelho estilhaçado, a História se fragmenta em histórias, em versões: oito ao todo, narradas de pontos de vista distintos e mesmo conflitantes, que dissipam toda certeza e trazem à tona o patético da empreitada. Narrada com “sóbria precisão” e louvada sem meias palavras por Jorge Luis Borges, leitor atento de Schwob, A cruzada das crianças ganha nova edição brasileira quando, mais uma vez, o Mediterrâneo testemunha trágicas peregrinações de pobres e crianças — agora na direção contrária.
Sobre o autor
Mayer André Marcel Schwob nasce em Chaville, na região da Champagne, na França, em 1867. Seu pai era um intelectual judeu, diplomata, diretor de jornais e amigo de escritores como Flaubert e Gautier. Em 1882 é enviado pela família para estudar em Paris, onde mora com o tio, Léon Cahun, diretor da Biblioteca Mazarine. Em 1888 conclui a licenciatura em Letras, interessando-se especialmente por literatura (Poe, Villon, Stevenson) e filologia, e passa a contribuir com artigos para a imprensa, incluindo os prestigiosos jornais L’Écho de Paris, onde vai dirigir o suplemento literário, e L’Événement. Em 1891 publica os contos de Coeur double e conhece Alfred Jarry. No ano seguinte sai seu segundo livro de contos, Le Roi au masque d’or, bem recebido pela crítica, e três anos depois, o Livre de Monelle, que o consagra definitivamente como escritor, sendo elogiado por Maeterlinck e Mallarmé. Em 1896 publica seus dois livros de ficção mais conhecidos, Vies imaginaires e La Croisade des enfants, além de duas coletâneas de artigos. Falece em Paris, em 1905.
Sobre o tradutor
Nascido em Manaus, em 1952, Milton Hatoum estudou arquitetura na Universidade de São Paulo. Depois de viver em Madri, Barcelona e Paris, ensinou literatura francesa na Universidade Federal do Amazonas e literatura brasileira na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Em 1989, estreou como ficcionista com Relato de um certo Oriente, ao qual se seguiram os romances Dois irmãos (2000), Cinzas do Norte (2005), A noite da espera (2017) e Pontos de fuga (2019), além da novela Órfãos do Eldorado (2008), dos contos de A cidade ilhada (2009) e das crônicas de Um solitário à espreita (2013). Traduziu o ensaio de Edward Said sobre as Representações do intelectual (2017) e os Três contos de Gustave Flaubert (em colaboração com Samuel Titan Jr.), este último para a coleção Fábula.
Sobre o ilustrador
Fidel Sclavo nasceu em Tacuarembó, no Uruguai, em 1960. Depois de estudar artes e viver em Montevidéu, Barcelona e Nova York, instalou-se em Buenos Aires, onde mora até hoje. Marcada pelo diálogo com a música e a literatura, sua obra plástica foi exposta em diversos museus e galerias na Argentina, nos Estados Unidos e na Europa. Como ilustrador, colaborou com muitas revistas, editoras e selos musicais, na Argentina e no exterior. No Brasil, teve dois de seus livros infantis publicados pela editora Vergara & Riba, Os amigos imaginários (2014) e O que existe em você (2015); e ilustrou, para a coleção Fábula, As estrelas, de Eliot Weinberger (2019), e A cruzada das crianças, de Marcel Schwob (2020).
Veja também
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