Busca rápida
digite título, autor, palavra-chave, ano ou isbn
 
Antropologia
 

 R$ 72,00
         


Saiu na mídia 1



 
Informações:
Site
site@editora34.com.br
Vendas
(11) 3811-6777

vendas@editora34.com.br
Assessoria de imprensa
imprensa@editora34.com.br
Atendimento ao professor
professor@editora34.com.br

Ilê Aiyê:
a fábrica do mundo afro

 

Michel Agier

Posfácio de Antonio Sérgio Alfredo Guimarães

Fotografias de Milton Guran


176 p. - 16 x 23 cm
ISBN 978-65-5525-198-2
2024 - 1ª edição

No final de 1974, um grupo de jovens de Salvador distribui pelas ruas o panfleto de um novo bloco carnavalesco, com uma foto de três negros numa rua de Lagos, na Nigéria, e os dizeres “Nós somos os africanos na Bahia”. Surgia assim o Ilê Aiyê: mais do que um bloco de carnaval, um movimento cultural e social que seria responsável não só pela reinvenção do carnaval da Bahia, mas por lançar um novo olhar sobre as relações raciais no Brasil.

Em Ilê Aiyê: a fábrica do mundo afro, o antropólogo francês Michel Agier, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, investiga os múltiplos significados dessa frase e desse carnaval que deslocavam tanto o imaginário do que era a África como do que era então a cidade de Salvador. Com base numa intensa pesquisa, realizada ao longo de várias décadas, o autor analisa as condições que deram origem e viabilidade ao movimento, situando-as no contexto dos debates sobre raça, cultura e modernidade em nosso país, ao mesmo tempo em que acompanha de perto os cinquenta anos de existência do Ilê.

Enriquecido pelas reflexões de Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, no posfácio, e 35 fotografias de Milton Guran — elas próprias um documento antropológico de excepcional qualidade estética —, o resultado é um livro vivíssimo, que diz respeito não apenas à cultura afro-baiana, mas interroga também o devir de outras culturas diaspóricas ao redor do globo.


Texto orelha

Ilê Aiyê: a fábrica do mundo afro (carnaval da Bahia, 1974-2024) é o mais recente livro de Michel Agier, antropólogo estudioso da cultura afro-baiana. Escrito em linguagem fluente, agradável e sustentada em uma rica etnografia, ele introduz os leitores no mundo negro construído pelo Ilê Aiyê desde os anos 1970, a partir da rua do Curuzu, no bairro da Liberdade, em Salvador, Bahia. As relações sócio-raciais e as transformações da chamada cultura afro-brasileira são apreendidas no contexto das mudanças sociais locais e globais, tendo como foco as ações e representações dos “africanos na Bahia” ou “da Bahia”, como então se autodenominavam os jovens negros do bairro, hoje adultos que prosseguem “apegados” ao bloco.
Trabalhadores de pequenas empresas de serviço, de construção e oficinas mecânicas, empregados em escritórios e no comércio, diaristas, auxiliares de enfermagem e vendedoras de acarajé formam o Ilê Aiyê, preliminarmente um pequeno bloco de percussão que viria a se tornar, anos depois, uma associação cultural especialmente expressiva, com sede própria, escolas de educação popular e um grande número de afiliados, alguns dos quais descendentes de estivadores e doqueiros do porto de Salvador, categoria operária influente na primeira metade do século XX.
Uma das características do Ilê é a sua base apoiada em relações de família com fortes vínculos com o candomblé. O seu núcleo formativo inicial tem como figura central a mãe de um dos seus fundadores, a Mãe Hilda, mãe de santo do terreiro Ilê Axé Jitolu, por ela fundado em 1952 e estabelecido na casa da família, construída em 1938, quando seu pai estivador se instalou no Curuzu. Referida ora como madrinha do bloco, ora como mãe do inventor, mãe do presidente do bloco e conselheira espiritual, Mãe Hilda é o que o antropólogo Marcel Mauss designa pessoa moral, ou pessoa-coletividade. Tal posição a projetou, até a sua morte, em 2009, como a líder do ritual de abertura de caminhos ou “rito de saída” do bloco, no sábado à noite do carnaval. Ela foi sucedida por uma de suas filhas.
A presença predominante de mulheres tem na mãe preta, ou mãe de santo do candomblé, e na “Deusa do Ébano” ou rainha do Ilê, fortes componentes simbólico-rituais, cujo suporte é “a aparência altiva de seus participantes, das mulheres em particular”, e cujo efeito é a criação de um mundo de pertencimento e reconhecimento que persiste após o carnaval. De acordo com Agier, “uma utopia, mas no presente”.
A contraparte masculina é Zumbi dos Palmares, o principal herói do panteão do Ile Aiyê e cujo aniversário de morte (20 de novembro) se tornou o dia da Consciência Negra, no Brasil.
A África da Bahia não começa, provavelmente, com o Ilê Aiyê — uma das interlocutoras do autor evoca o bisavô do seu pai, um negro africano, em cuja roça havia uma fonte e dentro da fonte, um bambu. “Ele falava de dentro desse bambu direto para a África” —, mas tem nesse grupo carnavalesco o fabricador do sentido contemporâneo de uma África construída ritualmente, que enseja, aos negros da Bahia, o que Michel Agier denomina “retificação de status”, ou seja, “uma correção ascendente de sua posição estrutural na sociedade”.
Estou segura de que todos que lerem este livro experimentarão, como eu, o prazer suscitado por uma leitura mobilizadora, que ao mesmo tempo que instiga, descortina um mundo desafiador... As fotos de Milton Guran são um complemento fundamental desta edição.

Maria Rosário de Carvalho


Sobre o autor

Michel Agier é antropólogo, directeur d’études na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris, onde é membro do Centre d’Étude des Mouvements Sociaux (CEMS) e directeur de recherche émérite no Institut de Recherche pour le Développement (IRD). Após realizar pesquisas de antropologia urbana sobre mobilidade social e etnicização em Togo e Camarões, na África, desenvolveu no Brasil pesquisas sobre relações raciais e dinâmicas culturais afro, com particular interesse nos ritos carnavalescos e no bloco Ilê Aiyê. Publicou diversos trabalhos em francês sobre esses temas, traduzidos para várias línguas (inglês, italiano, espanhol, alemão, sérvio e japonês). No Brasil, publicou os livros Encontros etnográficos: interação, contexto, comparação (2015) e Antropologia da cidade: lugares, situações, movimento (2018).


Raquel Camargo nasceu em João Pessoa, em 1987, e vive em São Paulo, onde trabalha como tradutora e editora. É doutora em Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês pela Universidade de São Paulo, com estágio doutoral na Universidade Paris-Sorbonne (Paris-IV). Suas pesquisas versam sobre literatura africana francófona e literatura contemporânea francesa, tendo traduzido no Brasil autores como Abdellah Taïa, Scholastique Mukasonga, David Diop, Frantz Fanon, Françoise Vergès, Monique Wittig, Pauline Delabroy-Allard, entre outros.



Veja também
O Atlântico negro
Modernidade e dupla consciência
A trama dos tambores
A música afro-pop de Salvador
Modernidades negras
a formação racial brasileira (1930-1970)

 


© Editora 34 Ltda. 2024   |   Rua Hungria, 592   Jardim Europa   CEP 01455-000   São Paulo - SP   Brasil   Tel (11) 3811-6777 Fax (11) 3811-6779