Guerra — I
Ofensiva paraguaia e reação aliada novembro de 1864 a março de 1866
Romance
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Beatriz Bracher
536 p. - 16 x 23 cm
ISBN 978-65-5525-206-4
2024
- 1ª edição
Guerra — I é o primeiro romance de uma trilogia que se passa durante a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Acompanhamos aqui o avanço do exército de Solano López sobre fortes e vilas em Mato Grosso e no Rio Grande do Sul, provocando a reação de Brasil, Argentina e Uruguai, unidos na Tríplice Aliança. Tudo é narrado pela voz de combatentes que deixaram seu testemunho em documentos, cartas, relatórios, memórias, diários — selecionados e rearranjados pela autora.
Neste romance, o leitor poderá ver a guerra de dentro, tanto por notáveis como o general Osório, o almirante Tamandaré, o engenheiro militar André Rebouças e o segundo-tenente Alfredo Taunay, quanto por desconhecidos da maior parte de nós, como o cirurgião-mor Xavier Azevedo, o tenente-coronel Albuquerque Bello, o cadete Dionísio Cerqueira e o voluntário da pátria Jakob Dick.
O calor, as noites gélidas, as moscas, o charco, a ventania, a fome, a coragem, o humor, os cavalos, a amizade, o horror e a morte são o assunto do livro. De longas marchas em cidades brasileiras, argentinas e uruguaias (o avanço sobre o Paraguai será descrito nos volumes seguintes) à fragilidade humana em um tempo sem antibióticos ou anestésicos. Das mulheres que acompanham seus maridos ao vagido de recém-nascidos na madrugada dos imensos acampamentos de tendas brancas esparramadas em planícies estrangeiras.
A guerra nas palavras e na gramática de quem a lutou, em nosso idioma, é o nosso rio: um romance brasileiro, escrito com fragmentos de combatentes brasileiros, onde, por não haver outros pontos de vista, vivemos o detalhe, o que está perto, o desconhecimento do todo — Guerra não explica a guerra, ele é a guerra em primeira pessoa.
Guerra é uma trilogia composta pelos romances:
1) Ofensiva paraguaia e reação aliada — novembro de 1864 a março de 1866;
2) Ofensiva aliada — abril de 1866 a dezembro de 1868;
3) Campanha da Cordilheira — janeiro de 1869 a março de 1870.
Texto orelha
“Nenhuma palavra nesses romances é minha”, diz Beatriz Bracher. É por esta renúncia — a da voz narradora, qualquer que seja a sua modalidade — que este livro se define. Fruto de uma longa procura por um ponto vista, uma forma, que lhe permitisse escrever sobre a tragédia do Paraguai, Guerra nasce de uma intuição súbita: a utilização direta da documentação que a autora recolhera em sua pesquisa, agora não mais matéria de apoio, mas figura principal e única. Mas se há uma renúncia à voz que narra em seu sentido tradicional, o livro é também resultado de um esforço extraordinário de narração (daí que tenha a palavra “romance” já em seu título), de contar uma história. É a labuta dessa romancista em fuga, escondida atrás de cada recorte, de cada sequência, de cada costura documental, que o torna tão singular. O tema, imenso e impenetrável — uma guerra cruel entre vizinhos (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), nos últimos anos do nosso Império, que definirá a história subsequente dos quatro países — seria matéria para um épico à Tolstói ou Thomas Mann, ou seja: um projeto gigantesco, sem precedentes bem-sucedidos no Brasil (a não ser, talvez, Os sertões, de Euclides da Cunha, a quem este livro de algum modo se refere). A estranheza da solução que Beatriz encontrou tem a escala dessa ambição, só que transferida ao leitor, sobre quem recaem as exigências de preencher os vazios entre os fragmentos e modular a diferença de altura e intenção de suas vozes, que vão da mais íntima e casual à mais burocrática. Essa continuidade narrativa em meio à heterogeneidade do material é a grande conquista, digamos, formal do livro, e quem sabe o leitor a perceberá como obra sua e não da autora. Mas o sopro contínuo que o livro oferece a quem souber lê-lo é a vitória verdadeira da romancista por trás de tantos cortes, cesuras e bandagens, numa vivificação espantosa da morte documental. Pois o improvável de fato acontece — agora temos diante de nós o destino de cidades e vilas inteiras, de covardes e de heróis, de mortes bestas e mortes belas, de barcos naufragando, de frio, de doenças, de animais e plantas e manguezais. O acesso à guerra coincide com este acesso direto às vozes de quem a viveu e sobre ela escreveu, dirigidas a nós sem a poeira e o desmembramento do que foi enfiado em alguma torre do tombo ou na estante esquecida de um sebo. Se a Guerra do Paraguai é um destes acontecimentos ao qual, por desmesura, acabamos não tendo acesso, Beatriz Bracher soube de fato mimetizá-lo. Pois seu livro é, em si mesmo, um acontecimento. Nuno Ramos
Sobre a autora
Beatriz Bracher nasceu em São Paulo, em 1961. Formada em Letras, foi uma das editoras da revista de literatura e filosofia 34 Letras, e uma das fundadoras da Editora 34, onde trabalhou de 1992 a 2000. Com seu pai e Marta Garcia, fundou em 2019 a Chão editora, da qual é conselheira editorial. Publicou em 2002, pela editora 7Letras, o romance Azul e dura (reeditado pela Editora 34 em 2010), seguido de Não falei (2004), Antonio (2007), Anatomia do Paraíso (2015), e dos livros de contos Meu amor (2009) e Garimpo (2013), todos pela Editora 34. Escreveu com Sérgio Bianchi o argumento do filme Cronicamente inviável (2000) e o roteiro do longa-metragem Os inquilinos (2009), prêmio de melhor roteiro no Festival do Rio 2009. Com Karim Aïnouz escreveu o roteiro de seu filme O abismo prateado (2011). Meu amor recebeu o Prêmio Clarice Lispector, da Fundação Biblioteca Nacional, como melhor livro de contos de 2009. Garimpo venceu o Prêmio APCA na categoria Contos/Crônicas em 2013 e recebeu menção honrosa no Prêmio Casa de las Américas, de Cuba, em 2015. O romance Anatomia do Paraíso (2015) venceu o Prêmio Rio de Literatura e o Prêmio São Paulo de Literatura em 2016. Antonio foi publicado em espanhol (Caceres, Editorial Periférica), alemão (Berlim, Assoziation A), inglês (Nova York, New Directions) e italiano (Milão, Utopia). Não falei foi publicado em inglês (New Directions) e alemão (Assoziation A).
Veja também
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