A ressurreição do lariço
(Contos de Kolimá 5)
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Varlam Chalámov
Posfácio de Varlam Chalámov
336 p. - 14 x 21 cm
ISBN 978-85-7326-653-5
2016
- (2ª edição - 2021)
Edição conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
A ressurreição do lariço é o quinto volume dos Contos de Kolimá, o ambicioso projeto de Varlam Chalámov (1907-1982) de prestar testemunho moral do horror dos campos de trabalho stalinistas, onde ele passou quase vinte anos, em uma prosa lúcida e sensível que não se rende à aridez do fato ou à neutralidade do documento.
Os trinta textos que integram este livro, escritos entre 1965 e 1967, traçam também o percurso de um artista que tenta recuperar a sensibilidade após os anos vividos no lager. São particularmente tocantes os contos que reconstroem trajetórias individuais - um engenheiro condenado por sua integridade, uma terrorista socialista-revolucionária que orquestra uma grande fuga, um diretor teatral de vanguarda que cai em desgraça -, nos quais, ao recuperar a memória de uma vida, o autor não se exime de pesar na mesma balança os valores éticos e estéticos.
Vertido primorosamente do original russo por Daniela e Moissei Mountian, incluindo seis contos traduzidos por Marina Tenório, A ressurreição do lariço traz ainda o ensaio "Sobre minha prosa", em que Chalámov expõe suas ideias sobre a literatura e comenta o processo de criação dos Contos de Kolimá.
Sobre o autor
Varlam Tíkhonovitch Chalámov nasceu em 1907, em Vólogda, Rússia, filho de um padre ortodoxo. Conclui os estudos secundários em 1924 e em 1926 é admitido no curso de Direito da Universidade de Moscou, quando começa a escrever seus primeiros poemas. Em fevereiro de 1929 é detido numa gráfica clandestina imprimindo panfletos contra Stálin. Condenado a três anos de trabalhos correcionais, cumpre a pena na região de Víchera, nos montes Urais. Libertado, retorna a Moscou no início de 1932. Em 1936 tem sua primeira obra publicada: o conto "As três mortes do doutor Austino". Em janeiro de 1937 é novamente detido e condenado por "atividades trotskistas contrarrevolucionárias", sendo enviado para a região de Kolimá, no extremo oriental da Sibéria, onde permanecerá por 15 anos em diversos campos de trabalhos forçados. No final do anos 1940, extremamente debilitado pelas condições extremas de sobrevivência nos campos, é ajudado por um médico e faz um curso de enfermagem, passando a trabalhar em hospitais de prisioneiros. Nessa época escreve os poemas dos Cadernos de Kolimá. Em 13 de outubro de 1951 chega ao fim sua pena. Retorna a Moscou em 1953, e com a ajuda de Boris Pasternak, volta a reinserir-se no meio literário. Em novembro desse ano começa a escrever os Contos de Kolimá, obra que vai absorvê-lo até 1973. No final da década de 1960, estes contos passam a ser publicados no exterior, e em 1981 recebe o Prêmio da Liberdade do Pen Club francês. O ciclo dos Contos de Kolimá é hoje considerado uma das obras-primas da literatura de testemunho do século XX, ao lado dos relatos de Soljenítsin, Primo Levi e Jorge Semprún. Anos depois, quando a saúde de Chalámov se deteriora, passa a viver em um abrigo de idosos, vindo a falecer em 1982.
Sobre os tradutores
Daniela Mountian (1976) é tradutora, designer e editora da Kalinka, revista e editora dedicadas à cultura russa. Fez pela USP graduação em história, mestrado sobre Fiódor Sologub e doutorado-sanduíche sobre Daniil Kharms, com estágio de um ano na Casa de Púchkin, em São Petersburgo. Foi indicada ao prêmio Jabuti pela tradução de Os sonhos teus vão acabar contigo, de Daniil Kharms (Kalinka, 2013, com Aurora Bernardini e Moissei Mountian). Traduziu com seu pai, Moissei, o conto "Luz e sombras", de Sologub, para a Nova antologia do conto russo (Editora 34, 2011) e o volume Diário de um escritor (1873): Meia carta de um sujeito, de Fiódor Dostoiévski (Hedra, 2016).
Moissei Mountian (1948), nascido na Moldávia (URSS), é formado em engenharia civil. Em 1972 mudou-se com sua esposa, Sofia Mountian, para o Brasil, onde, em 2008, fundou com sua filha Daniela a editora Kalinka e começou a trabalhar como tradutor. Foi indicado duas vezes ao Prêmio Jabuti pelas traduções de O diabo mesquinho, de Fiódor Sologub (Kalinka, 2008), e Os sonhos teus vão acabar contigo, de Daniil Kharms. Também traduziu Encontros com Liz e outras histórias, de Leonid Dobýtchin (Kalinka, 2009), Diário de um escritor (1873): Meia carta de um sujeito, de Fiódor Dostoiévski, e, com Irineu Franco Perpetuo, Salmo, de Friedrich Gorenstein (Kalinka, no prelo).
Marina Tenório nasceu em Moscou, numa família russo-brasileira, e passou a infância e a adolescência entre os dois países. Graduou-se em direito pela USP e estudou teatro em Moscou, onde se formou com o diretor Anatoli Vassíliev. Nesse período, trabalhou também com o coreógrafo e dançarino japonês Min Tanaka. Mais tarde, concluiu o mestrado em coreografia pela HZT, em Berlim. Atualmente, desenvolve trabalhos próprios em dança e teatro e dedica-se à tradução literária. Traduziu diretamente do russo a novela O duelo, de A. P. Tchekhov (Editora 34, 2014).
Veja também
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