O artista da pá
Contos de Kolimá 3
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Varlam Chalámov
Posfácio de Varlam Chalámov
424 p. - 14 x 21 cm
ISBN 978-85-7326-628-3
2020
- 2ª edição
Edição conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Do comboio de prisioneiros que o levou até o campo de Víchera, nos Montes Urais, em 1929, até a longa viagem de trem de Irkutsk a Moscou, em 1953, quando ele finalmente retorna de seu calvário nas geladas minas de Kolimá, no leste da Sibéria, Varlam Chalámov registra, nos 28 contos de O artista da pá, a luta pela sobrevivência no contexto de uma das maiores tragédias da humanidade: os campos de trabalhos forçados na União Soviética stalinista, onde morreram milhões de pessoas.
Enquanto alguns autores da literatura de testemunho, como Soljenítsin, buscam um retrato abrangente e moralizante do ocorrido, pregando a redenção por meio do sofrimento, Chalámov vai na direção oposta: sua narrativa seca e objetiva, de ascendência tchekhoviana, expõe os detalhes de cada situação vivida por ele e seus colegas de prisão, deixando uma marca indelével na memória dos leitores.
Seu estilo - descrito pelo próprio autor no ensaio "Sobre a prosa", recolhido ao final deste terceiro volume da série Contos de Kolimá - vem conquistando cada vez mais admiradores, como a Prêmio Nobel de Literatura de 2015, Svetlana Aleksiévitch, que considera Chalámov "o maior escritor do século XX".
Sobre o autor
Varlam Tíkhonovitch Chalámov nasceu em 1907, em Vólogda, Rússia, filho de um padre ortodoxo. Conclui os estudos secundários em 1924 e em 1926 é admitido no curso de Direito da Universidade de Moscou, quando começa a escrever seus primeiros poemas. Em fevereiro de 1929 é detido numa gráfica clandestina imprimindo panfletos contra Stálin. Condenado a três anos de trabalhos correcionais, cumpre a pena na região de Víchera, nos montes Urais. Libertado, retorna a Moscou no início de 1932. Em 1936 tem sua primeira obra publicada: o conto "As três mortes do doutor Austino". Em janeiro de 1937 é novamente detido e condenado por "atividades trotskistas contrarrevolucionárias", sendo enviado para a região de Kolimá, no extremo oriental da Sibéria, onde permanecerá por 15 anos em diversos campos de trabalhos forçados. No final do anos 1940, extremamente debilitado pelas condições extremas de sobrevivência nos campos, é ajudado por um médico e faz um curso de enfermagem, passando a trabalhar em hospitais de prisioneiros. Nessa época escreve os poemas dos Cadernos de Kolimá. Em 13 de outubro de 1951 chega ao fim sua pena. Retorna a Moscou em 1953, e com a ajuda de Boris Pasternak, volta a reinserir-se no meio literário. Em novembro desse ano começa a escrever os Contos de Kolimá, obra que vai absorvê-lo até 1973. No final da década de 1960, estes contos passam a ser publicados no exterior, e em 1981 recebe o Prêmio da Liberdade do Pen Club francês. O ciclo dos Contos de Kolimá é hoje considerado uma das obras-primas da literatura de testemunho do século XX, ao lado dos relatos de Soljenítsin, Primo Levi e Jorge Semprún. Anos depois, quando a saúde de Chalámov se deteriora, passa a viver em um abrigo de idosos, vindo a falecer em 1982.
Sobre o tradutor
Lucas Simone nasceu em São Paulo, em 1983. É formado em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (2011), com doutorado em Letras pelo Programa de Literatura e Cultura Russa da FFLCH-USP (2019). Publicou diversas traduções do russo, entre elas: Pequeno-burgueses (Hedra, 2010) e A velha Izerguil e outros contos (Hedra, 2010), de Maksim Górki; A aldeia de Stepántchikovo e seus habitantes (Editora 34, 2012), de Fiódor Dostoiévski; O artista da pá, de Varlam Chalámov (Editora 34, 2016); O fim do homem soviético, de Svetlana Aleksiévitch (Companhia das Letras, 2016); Diário de Kóstia Riábtsev, de Nikolai Ognióv (Editora 34, 2017); O ano nu, de Boris Pilniák (Editora 34, 2017); e Dois hussardos (Editora 34, 2020), de Lev Tolstói.
Veja também
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