Nossa vingança é o amor: antologia poética (1971-2024)
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Cristina Peri Rossi
Posfácio de Ayelén Medail
Edição bilíngue
400 p. - 16 x 23 cm
ISBN 978-65-5525-242-2
2025
- 1ª edição
Poeta, romancista, contista, ensaísta e tradutora, Cristina Peri Rossi (Montevidéu, 1941) é uma das principais escritoras de língua espanhola do nosso tempo. Com mais de quarenta livros publicados e traduzida para mais de vinte idiomas, recebeu diversos prêmios por sua obra, entre eles o Prêmio Cervantes, em 2021.
De um lirismo contundente, seu primeiro livro de poemas, Evoé, lançado em 1971, causou escândalo ao explorar o erotismo lésbico. No ano seguinte seus livros foram censurados e seu nome foi proibido nos meios de comunicação em seu país. Em outubro de 1972, às vésperas do golpe que implantaria a ditadura militar no Uruguai, fugiu para a Europa e exilou-se em Barcelona, onde vive até hoje.
Consciente de que “O poeta não escreve sobre as coisas/ senão sobre o nome das coisas”, criou uma obra multifacetada, não dogmática, atravessada pelos temas do exílio, do desejo — em suas múltiplas dimensões — e por um anseio constante de transgredir toda ordem estabelecida pelo sistema patriarcal.
Nossa vingança é o amor reúne — em edição bilíngue, com seleção e tradução de Ayelén Medail e Cide Piquet — 150 poemas de seus dezoito livros de poesia, além do discurso da autora para o Prêmio Cervantes e de um posfácio assinado por Ayelén Medail.
“No sonho/ eu quis perguntar/ à bela gladiadora/ qual era o sentido do combate/ por que a luta/ qual era o troféu.// Sorriu e me disse:/ Luta-se/ apenas/ porque se vive.
Texto orelha
“Falo a língua dos conquistadores/ mas digo o oposto do que eles dizem.” Os versos, que encerram “Condição de mulher”, incluído em A noite e seu artifício (2014), condensam várias das particularidades que marcam o longo e original percurso literário de Cristina Peri Rossi. De fato, o oposto do que eles dizem desdobra-se de modo ininterruptamente cínico e, muitas vezes, inédito no universo da poesia latino-americana e, de modo geral, da poesia moderna — entre a metalinguagem e a metaliteratura, o preço da individualidade (“Vivi fora da tribo/ à margem das manadas/ e conheci o repúdio dos chefes”), o exílio, a iconoclastia ou o esculacho irônico do legado histórico, filosófico e político do Ocidente, a vida íntima das lésbicas (“Orai: ela abriu as pernas./ Todo mundo de joelhos”), a própria vida (“A vida não tem sentido,/ mas, mesmo assim,/ me emociona”), o envelhecimento, a crítica direta e mordaz ao falocentrismo criativo (“Teoria literária”) ou o deboche anticapitalista de um mundo gradualmente mais e mais cibernético, fútil e mercantológico (“I love Cristina Peri Rossi”). Esta constelação de temas para almas insuladas, desenhada a partir do eco longínquo de uma gargalhada ardilosa, zombeteira e antiga, lembra-nos, além disso, que o canto é, por excelência, o sinônimo poeticamente certeiro da solidão. Cristina está sozinha porque declina o supérfluo e o rasteiro. E não há nada nesse espaço solitário que não seja a consequência inequívoca do talento e da maldição para carregar sobre os ombros uma cabeça divertidamente lúcida. Neste caso e com toda a evidência, a cabeça mais divertidamente lúcida entre as cabeças da sua geração, cujos poemas, por nenhum outro motivo senão o da hipervalorização do romance no que diz respeito ao verso, começam finalmente, mas apenas agora, a receber a atenção que merecem. Parece-me, na verdade, tão feliz quanto animador que a entrada tardia de Peri Rossi no Brasil corresponda também à tradução e edição de um conjunto substancial de poemas extraídos dos seus dezoito volumes de poesia, publicados entre 1971 e 2024. Com organização e tradução de Ayelén Medail e Cide Piquet, Nossa vingança é o amor não só reúne os poemas de Cristina Peri Rossi de forma absolutamente coerente para oferecer à leitora e ao leitor uma visão panorâmica e, ao mesmo tempo, rigorosa de cinco décadas de produção, mas também aplaca, por um lado, parte da enorme lacuna — a da incomunicabilidade entre os países de língua espanhola e o Brasil —, que assombra há muito tempo a América Latina. E por outro, o atraso em conhecer a autora de um livro tão extraordinariamente atrevido como, por exemplo, Evoé que — e assim lemos ao abri-lo —, foi, à semelhança de um palimpsesto, escrito debaixo da amante. Não me restam dúvidas. Os poemas de Cristina Peri Rossi cairão como uma bomba sobre os colos distraídos dos leitores brasileiros pela sua qualidade e ousadia, e influenciarão, certamente, por não ser possível sair ileso deste encontro apaixonante e irreversível, os textos de muitos outros autores — sobretudo, claro, o grito brutal, tresnoitado, fundo, gutural das mulheres. Patrícia Lino
Sobre a autora
Cristina Peri Rossi nasceu em Montevidéu, no Uruguai, em 1941, filha de Julieta Rossi, professora primária, e Ambrosio Peri, trabalhador têxtil, ambos descendentes de imigrantes italianos. Começa a estudar Biologia na Universidade de Montevidéu, mas se forma em Literatura Comparada pelo Instituto Artigas, onde, em 1964, obterá uma cátedra universitária. Paralelamente à docência, dedica-se à escrita e à militância política na esquerda independente. Em 1963 publica seu primeiro livro, Viviendo, que reúne três narrativas breves, e em 1969 saem Los museos abandonados e El libro de mis primos, sendo então reconhecida como uma das escritoras mais importantes de sua geração por nomes como Mario Benedetti e Julio Cortázar. Em 1971 publica seu primeiro volume de poemas, Evoé, causando escândalo ao explorar o erotismo lésbico. Em 1972 sua obra é censurada e Cristina perde sua cátedra. Em outubro de 1972 foge de navio para a Espanha. às vésperas do golpe militar uruguaio de 1973. Radica-se então em Barcelona, onde trabalha como professora de literatura, tradutora e jornalista, publicando em periódicos como El País, Diario 16, La Vanguardia e El Mundo. Desenvolve também uma intensa carreira literária, dedicando-se à poesia, ao romance, ao conto e ao ensaio, e tem mais de quarenta obras publicadas, dentre elas Julio Cortázar y Cris (2014), sobre sua amizade com o escritor, La insumisa (2020), uma autobiografia ficcional, e Fata Morgana (2024), seu mais recente livro de poemas. Em 2021 foi a sexta mulher a ganhar o Prêmio Cervantes de Literatura, o mais importante da língua espanhola. Vive em Barcelona.
Sobre os tradutores
Ayelén Medail nasceu em Entre Ríos, na Argentina, em 1987, e é pesquisadora, tradutora, editora e professora. Graduada em História pelo Instituto Superior de Profesorado Dr. Joaquín V. González (Buenos Aires) e em Letras pela UNIP (São Paulo), possui mestrado em Ciências da Comunicação e Cultura pelo Programa de Pós-Graduação em Integração Latino-Americana da USP, onde estudou a poética de Alfonsina Storni, Gabriela Mistral e Juana de Ibarbourou. Reside no Brasil desde 2012, onde cursa o doutorado em Letras na USP, pesquisando os ensaios de Gabriela Mistral a partir de uma abordagem crítica feminista. É editora da revista Entrecaminos, do Programa de Pós-Graduação em Letras e Literatura Espanhola e Hispano-Americana da USP, e da revista Canarana, de arte e cultura. Como professora, atua no Instituto Cervantes de São Paulo. Traduziu, entre outros, O jardim onírico de Clarice Lispector, de Daniela Tarazona (2024), Saboroso cadáver, de Agustina Bazterrica (2022), A arte do erro, de María Negroni (2021) e História do leite, de Mónica Ojeda (2021).
Cide Piquet nasceu em Salvador em 1977 e estudou Letras na USP. É editor, tradutor e poeta. Trabalha na Editora 34 desde 1999, atuando especialmente nas coleções de poesia, literatura russa e literatura estrangeira. Traduziu 20 haicais de Issa, de Kobayashi Issa (Igarapé, 2020, e-book disponível na plataforma Issuu), Só para maiores de cem anos, de Nicanor Parra (Editora 34, 2018, com Joana Barossi), Esta vida: poemas escolhidos, de Raymond Carver (Editora 34, 2017), e Histórias para brincar, de Gianni Rodari (Editora 34, 2007), entre outros. Publicou traduções de ensaios e poemas em livros, revistas e antologias como Serrote, Piauí, Modo de Usar & Co., Escamandro e Revista Cult. De sua autoria, publicou as plaquetes malditos sapatos: 18 poemas de amor e desamor (Hedra, 2013, coleção Sem Chancela) e Poemas e traduções (Quelônio, 2017), além de colaborações em blogs, revistas e antologias. Ministrou cursos, palestras e oficinas sobre edição e tradução na Casa Guilherme de Almeida, Casa das Rosas, Espaço Cult, Universidade do Livro da UNESP e na Escola de Comunicações e Artes da USP, em São Paulo.
Veja também
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