Pierre Judet de La Combe
Coleção Fábula
Projeto gráfico de Raul Loureiro
72 p. - 12 x 18 cm
ISBN 978-65-5525-182-1
2024
- 1ª edição
Aquiles ou Ulisses? Mas isso é coisa que se pergunte? Por qual razão deveríamos preferir um dos dois grandes heróis da mitologia e da literatura antigas? O “melhor dos aqueus” é incompatível com o mais engenhoso dos gregos?
Essas perguntas são o ponto de partida para a viagem pela poesia de Homero que Pierre Judet de La Combe propõe a seus leitores. De um lado, o jovem e brilhante Aquiles, protagonista desse “poema da força” que é a Ilíada, destinado à morte precoce e violenta; do outro lado, Ulisses, esse herói da astúcia e da sobrevivência, enfrentando os percalços tremendos da Odisseia. Diante dos muros de Troia, os dois encarnam valores centrais e contrastantes da cultura grega: a valentia e o desejo de glória imortal, mas também o desejo de voltar para casa e de consolidar, ainda que por breve tempo, os contornos da vida em sociedade. Aos poucos, guiados pelo autor desta pequena conferência, percebemos que a pergunta inicial esconde outra, pois Aquiles e Ulisses estão às voltas, afinal, com uma só e mesma questão: como conferir sentido, ordem e beleza às nossas vidas frágeis e efêmeras como folhas de árvores que caem?
Texto orelha
Helenista de mão-cheia, tradutor da Ilíada e autor de uma “biografia” de Homero, Pierre Judet de La Combe propõe a seus jovens ouvintes franceses — e agora a seus leitores brasileiros — uma pergunta que parece saída do nada: Aquiles ou Ulisses? Aos poucos, porém, vamos percebendo que os dois heróis homéricos não são dois personagens quaisquer, pois cristalizam valores centrais e antitéticos para os gregos da Antiguidade. Falar de Aquiles e Ulisses equivale a penetrar no coração de uma cultura que, por mais familiar que nos pareça, é afinal de contas muito remota. É preciso paciência para decifrá-la, à maneira do arqueólogo que interroga ruínas e fragmentos: o que é, para os gregos antigos, um herói? O que significam a ira de Aquiles e a astúcia de Ulisses? O que são a glória, a morte, o tempo, a poesia? As respostas gregas a essas perguntas não são mais as nossas, como bem demonstra o autor desta conferência luminosa. E talvez provenha daí, justamente daí, todo seu fascínio, todo seu poder de nos incitar a revisitar nossas próprias ideias sobre a vida em sociedade, a condição humana e a natureza do belo. Entre 1929 e 1932, por encomenda de uma rádio alemã, Walter Benjamin escreveu programas destinados ao público jovem: eram narrativas, conversas, conferências, mais tarde reunidas sob o título de Luzes para as crianças. A diretora de teatro Gilberte Tsaï decidiu retomar o título para designar as “pequenas conferências” que organiza todos os anos, dirigidas tanto aos jovens (a partir de dez anos) como àqueles que os acompanham. O intuito é sempre o mesmo: iluminar e despertar. Ulisses, a noite estrelada, os deuses, as palavras, as imagens, a guerra, Galileu... Os temas não têm limites. Há, porém, uma única regra a ser respeitada: os palestrantes devem realmente falar aos jovens e fazê-lo para além dos caminhos já traçados, num gesto de amizade que atravesse gerações. Como a experiência deu certo, veio naturalmente a ideia de publicar essas aventuras orais em pequenos livros. Nasceu assim a coleção Les Petites Conférences, publicada na França pela editora Bayard. A breve conferência de Pierre Judet de La Combe sobre Aquiles, Ulisses e o universo da epopeia grega foi proferida em Montreuil, perto de Paris, em 11 de março de 2017, e chega agora ao leitor brasileiro por meio da coleção Fábula.
Sobre o autor
Nascido em 1949, o helenista francês Pierre Judet de La Combe fez seu doutorado em filologia na Universidade de Lille, onde defendeu uma tese sobre Ésquilo (1981) sob a direção de Jean Bollack. Pesquisador do Centre National pour la Recherche Scientifique (CNRS) e diretor de estudos na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris, dedica-se à filologia grega e em especial aos poetas trágicos e a Homero. Entre seus livros, contam-se L’Avenir des langues: repenser les humanités (2004, com Heinz Wismann), Les Tragédies grecques sont-elles tragiques? (2010), L’Avenir des anciens: oser lire les Grecs et les Latins (2016) e Homère (2017), a ser publicado em breve na coleção Fábula. Como tradutor, verteu para o francês diversas peças de Ésquilo, Eurípides e Aristófanes; sua nova tradução da Ilíada foi recentemente publicada no volume Tout Homère, editado por Hélène Monsacré (2019).
Sobre a tradutora
Cecília Ciscato nasceu em São Paulo, em 1977. Graduada em Letras pela Universidade de São Paulo (2011), é também mestre em Língua Francesa pela Université Paris Descartes (2015). Traduziu o Discurso do prêmio Nobel de literatura 2014, de Patrick Modiano (Rocco, 2015) e, para a coleção Fábula, O homem que plantava árvores, de Jean Giono (2018, em colaboração com Samuel Titan Jr.), bem como as “pequenas conferências” Que emoção! Que emoção?, de Georges Didi-Huberman (2016), Outras naturezas, outras culturas, de Philippe Descola (2016), Como se revoltar?, de Patrick Boucheron (2018) e O tempo que passa (?) (2019), de Étienne Klein.
Veja também
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