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Três poetas moderníssimas

 

Mina Loy
Hope Mirrlees
Nancy Cunard

Tradução de Álvaro Antunes
Edição bilíngue

368 p. - 16x23 cm
ISBN 978-65-5525-189-0
2024 - 1ª edição

Reunindo conhecimento ímpar e rara dedicação, Álvaro A. Antunes — Prêmio APCA 2021 por sua tradução dos Cantos, de Leopardi — resgata em Três poetas moderníssimas as contribuições de escritoras de vanguarda que, nas primeiras décadas do século XX, dialogavam de perto com o que havia de mais inovador na poesia de língua inglesa e foram relegadas, com o correr do tempo, “à margem da margem”.

Com vidas tão experimentais quanto seus poemas, Mina Loy, Hope Mirrlees e Nancy Cunard são autoras, respectivamente, de “Canções para Joannes” (1917), “Paris: um poema” (1920) e “Paralaxe” (1925), poemas-longos que, em risco e ambição, são equiparáveis às produções de Ezra Pound e T. S. Eliot, particularmente “The waste land” (1922), o poema-chave da época.

Escritos em pleno turbilhão do Modernismo — e apresentados aqui em edição bilíngue, com o imprescindível respeito à tipografia original —, cada poema é acompanhado de um minucioso ensaio no qual o tradutor e organizador do volume contextualiza a vida e a obra das autoras, situando-as na paisagem literária do momento, ao mesmo tempo em que destaca e comenta a radicalidade inerente a cada uma delas.

Fruto de larga pesquisa, e com preciosos insights sobre a poesia de invenção do final do século XIX às primeiras décadas do XX, este livro é referência fundamental para o conhecimento da literatura moderna em inglês e fonte atualíssima de reflexão para a poesia contemporânea, na medida em que algumas de suas principais linhas de força emergiram de apostas tão vigorosas quanto as destas Três poetas moderníssimas.


Texto orelha

Há um século atrás existiu um tempo chamado Futuro. Nele, mulheres moderníssimas inventaram linguagens tão radicais que apenas recentemente começamos a desvendar suas sutilezas. Graças à fina compreensão de um leitor devotado, três poetas inglesas inovadoras aportam no Brasil. Álvaro A. Antunes realiza um trabalho de mestre ao apresentar e traduzir essas autoras, praticamente desconhecidas entre nós: Mina Loy, Hope Mirrlees e Nancy Cunard, cidadãs da vanguarda europeia.


Vivendo em um mundo masculino na primeira metade do século XX, no qual uma escritora dificilmente conseguia se sobressair, cada uma delas experimentou situações existenciais penosas, que as levou ao retraimento. Seus amores, seu comportamento, suas escolhas, foram considerados escandalosos para os padrões da época, o que contribuiu para que suas produções poéticas não recebessem o destaque crítico merecido. Suas obras foram publicadas em edições diminutas e ficaram na obscuridade por décadas. Mas a energia incansável que provém de seus versos vai rompendo as costuras da mortalha em que estiveram encerradas e, aos poucos, ressurgem, tão vibrantes em originalidade como se estes poemas fossem compostos para o amanhã.


O centro do interesse do livro encontra-se nos poemas-longos compostos por cada uma das autoras. Fragmentários, alusivos, elípticos, sugerem paisagens mentais, ora de relações amorosas em que a mulher satiriza o machismo com que é tratada, ora em deriva por uma Paris pós-Primeira Guerra que volta ao seu fervilhar (embora cheia de contradições), ora em viagens pela Itália ou pela própria interioridade, em variadas camadas de tempo, vozes, perspectivas.


A trepidação da cidade cosmopolita, com suas esquinas abertas para o imprevisível, intensificada pela confusão de ruídos, mercadorias, pessoas do mundo todo, era uma novidade que eletrizava a poesia, requerendo novas formas de representação. O verso livre nascera para cantar esse universo caótico, inumerável, em que as fronteiras entre culturas heterogêneas e identidades em confronto se entrecruzavam. Antes mesmo que o cinema documentasse a velocidade desses deslocamentos, a poesia já transmitia o ritmo frenético das ruas e das caminhadas subjetivas e literais pela Europa modernista.


Não há organicidade nos poemas-longos: cada trecho é um estilhaço que se justapõe sem resultar num todo coeso — ao contrário, eles muitas vezes se estranham. É o leitor que fará a interpretação, que permanece em geral enigmática e indeterminada. Por vezes, decifrar algum princípio de construção, sem necessariamente extrair um significado único para a obra, já é abraçar uma direção, quando há sobretudo contraste e estridência entre as partes.


Em Três poetas moderníssimas contamos com o acompanhamento atento e minucioso do tradutor e organizador, cujas notas e comentários nos guiam nestes labirintos de fluxo de consciência, imagens audazes, jorros inesperados de lembranças e de citações artísticas — uma miríade de referências que, ainda bem, recebem seu devido esclarecimento.


Mas, no fim das contas, a nossa relação com estes poemas crescerá sobretudo do nosso desejo interpretativo, da nossa imersão pessoal, do nosso corpo a corpo com estes versos que brotam, em estado nascente, a nos convocar e provocar — como no poema de Maiakóvski reinventado por Ney Costa Santos e Caetano Veloso: “Ressuscita-me!/ Ainda que mais não seja/ porque sou poeta/ e ansiava o futuro”.


Viviana Bosi


Sobre os autores

Mina Loy nasce em Londres, em 1882. Em 1903 casa-se com o pintor e fotógrafo Stephen Haweis, com quem se muda para Paris, onde nasce a primeira filha do casal. Nesta cidade estuda arte, frequenta o círculo de Gertrude Stein e exibe aquarelas no Salon d’Automne em 1904, 1905 e 1906. Neste ano Loy e Haweis mudam-se para Florença, onde nasce o segundo filho, e conhecem F. T. Marinetti e Giovanni Papini, período que inspiraria o poema-longo “Songs to Joannes” (1917). O casamento se desfaz em 1913, e Loy começa a publicar poemas em revistas de vanguarda. Parte para Nova York em 1916, onde conhece Marianne Moore, William Carlos Williams, Marcel Duchamp e Francis Picabia. Tem um romance com Arthur Cravan, mas este morre na costa do México, sem conhecer a filha dos dois, que nasce em 1919. Após viajar por Londres, Lausanne, Florença, Nova York, Viena e Berlim, fixa-se em Paris em 1923, onde publica seu primeiro livro de poemas, Lunar Baedecker. Tenta sobreviver como designer de roupas, chapéus e abajures estampados, dedicando-se também à prosa. A partir de 1930 ajuda o genro, galerista nos Estados Unidos, com seus contatos no mundo artístico parisiense, e em 1936 muda-se definitivamente para Nova York, onde trava amizade com Joseph Cornell. Em 1953 retira-se para Aspen, onde moravam suas filhas, e em 1959, com o apoio de Duchamp, realiza uma exposição numa galeria de Nova York. Morre em Aspen, em 1966, aos 83 anos.


Hope Mirrlees nasce em 1887 em Erpingham, no condado de Kent, na Inglaterra, filha de pais escoceses. Passa a infância em Durban, na África do Sul, onde seu pai tinha negócios, e estuda na prestigiosa St. Andrews, na Escócia, e na Royal Academy of Dramatic Art, em Londres. Seu interesse por línguas a leva a ingressar no Newnham College, em Cambridge, em 1910, onde tem como tutora Jane Ellen Harrison (1850-1928), a grande classicista inglesa, de quem se torna muito próxima. Após frequentes visitas a Paris entre 1913 e 1919, escreve “Paris: a poem”, publicado em 1920 pela Hogarth Press, de Virginia e Leonard Woolf. Lança também os romances Madeleine: one of love’s Jansenists (1919), The counterplot (1924) e Lud-in-the-mist (1926), este hoje considerado um clássico da literatura de fantasia. Com a morte de Harrison em 1928, com quem morou em Paris e Londres, entra em crise e converte-se ao catolicismo, passando a viver com a mãe, em Londres, cuja residência era frequentada por T. S. Eliot, entre outros. Após o falecimento da mãe, em 1948, muda-se para o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, retornando à Inglaterra em 1963. Em 1976 seus poemas posteriores a “Paris: a poem” são publicados sob o título Moods and tensions. Morre em Thames Bank, na Inglaterra, em 1978, aos 91 anos.


Nancy Cunard nasce em 1896 em Leicestershire, na Inglaterra, filha única de Sir Bache Cunard e Maud Alice Burke. O pai, inglês, é herdeiro da Cunard Line, a companhia de transporte marítimo. A mãe, norte-americana, é ainda mais rica, e com Nancy adolescente, adota o nome de Emerald, abandona o marido e muda-se para Londres, onde se torna anfitriã famosa na sociedade londrina. Nancy frequenta escolas de etiqueta em Munique e Paris, viaja muito, e depois passa a viver com Iris Tree, poeta como ela, em Londres, as duas se tornando na época ícones da liberação feminina. Nos anos 1920 lança duas coletâneas de poemas, Outlaws (1921) e Sublunary (1923), e o poema-longo Parallax (1925), que Virginia e Leonard Woolf publicam pela Hogarth Press. Funda então a sua própria editora, a Hours Press, em Paris, publicando obras de Ezra Pound, Louis Aragon e Samuel Beckett, entre outros. Com Pound e Aragon teve longos relacionamentos amorosos, e também com Henry Crowder, um músico de jazz afro-americano. Torna-se então ativista de direitos civis nos EUA, escrevendo o panfleto Black man and white ladyship (1931) e editando a monumental Negro: an anthology (1934), que colige obras de escritores e artistas negros. Ao fim da Segunda Guerra Mundial e da ocupação da França, os nazistas invadem e destroem sua casa em Réanville, onde guardava seus livros, sua coleção de arte e a prensa da Hours Press. Seus últimos anos são de perambulação e lento declínio físico. Morre em Paris, em 1965, numa cama de enfermaria, aos 69 anos.


Sobre o tradutor

Álvaro A. Antunes Fernandes nasceu em 1953 em Além Paraíba, MG. Por quinze anos, viveu e trabalhou em São Paulo e no Rio de Janeiro na indústria informática. Nos anos 1980 foi um dos fundadores da Interior Edições, para a qual traduziu Os papéis de Aspern, de Henry James (1984), A caça ao turpente, de Lewis Carroll (1984) e os Cantos, de Leopardi (1985; nova edição revista, 2021, Prêmio APCA de Tradução). Em 1984 graduou-se em Economia no Rio de Janeiro, e depois concluiu o mestrado em inteligência artificial (1990) e o doutorado em ciência da computação (1995) em Edimburgo, na Escócia. Viveu no Reino Unido nos últimos trinta e cinco anos, onde, na área da ciência da computação, foi pesquisador na Heriot-Watt University, em Edimburgo, professor no Goldsmiths College da Universidade de Londres, e, por vinte anos, professor na Universidade de Manchester, onde se aposentou em 2018. Desde então vive em Buxton, Derbyshire, dedicando-se à tradução e aos estudos literários.



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