Ensaios sobre o mundo do crime
(Contos de Kolimá 4)
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Varlam Chalámov
Posfácio de Varlam Chalámov
192 p. - 14 x 21 cm
ISBN 978-85-7326-652-8
2020
- 2ª edição
Edição conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Este quarto volume dos Contos de Kolimá - obra monumental, em seis volumes, na qual o escritor Varlam Chalámov (1907-1982) documenta os quase vinte anos que viveu como preso político nos campos de trabalhos forçados da URSS stalinista - representa um momento de inflexão, em que o autor se desvia do tom predominante nos demais livros, de rememoração e documentação em chave literária, para analisar na forma de ensaios o mundo do crime que ele conheceu de perto nas prisões e lagers russos.
Da formação do jovem bandido, no ensaio "Sangue vigarista", ao papel da mulher no universo criminal, a preocupação central do autor é desmistificar e "desromantizar" o mundo do crime e a figura dos blatares, os bandidos profissionais. Já em "A guerra das cadelas", texto central, narra-se o cisma entre duas facções criminosas que resultou em uma verdadeira carnificina nos campos de prisioneiros e que está na origem da formação da máfia russa moderna.
Complementam a edição o texto "O que vi e compreendi no campo de trabalho", uma listagem sucinta das "lições" de um sobrevivente dos gulags, e uma carta de Chalámov a Aleksandr Soljenítsin, na qual se delineiam as diferentes visões de mundo desses dois grandes escritores.
Sobre o autor
Varlam Tíkhonovitch Chalámov nasceu em 1907, em Vólogda, Rússia, filho de um padre ortodoxo. Conclui os estudos secundários em 1924 e em 1926 é admitido no curso de Direito da Universidade de Moscou, quando começa a escrever seus primeiros poemas. Em fevereiro de 1929 é detido numa gráfica clandestina imprimindo panfletos contra Stálin. Condenado a três anos de trabalhos correcionais, cumpre a pena na região de Víchera, nos montes Urais. Libertado, retorna a Moscou no início de 1932. Em 1936 tem sua primeira obra publicada: o conto "As três mortes do doutor Austino". Em janeiro de 1937 é novamente detido e condenado por "atividades trotskistas contrarrevolucionárias", sendo enviado para a região de Kolimá, no extremo oriental da Sibéria, onde permanecerá por 15 anos em diversos campos de trabalhos forçados. No final do anos 1940, extremamente debilitado pelas condições extremas de sobrevivência nos campos, é ajudado por um médico e faz um curso de enfermagem, passando a trabalhar em hospitais de prisioneiros. Nessa época escreve os poemas dos Cadernos de Kolimá. Em 13 de outubro de 1951 chega ao fim sua pena. Retorna a Moscou em 1953, e com a ajuda de Boris Pasternak, volta a reinserir-se no meio literário. Em novembro desse ano começa a escrever os Contos de Kolimá, obra que vai absorvê-lo até 1973. No final da década de 1960, estes contos passam a ser publicados no exterior, e em 1981 recebe o Prêmio da Liberdade do Pen Club francês. O ciclo dos Contos de Kolimá é hoje considerado uma das obras-primas da literatura de testemunho do século XX, ao lado dos relatos de Soljenítsin, Primo Levi e Jorge Semprún. Anos depois, quando a saúde de Chalámov se deteriora, passa a viver em um abrigo de idosos, vindo a falecer em 1982.
Sobre o tradutor
Francisco de Araújo nasceu em Fortaleza, em 1978. É bacharel em Letras Português-Russo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como mestrando em Literatura e Cultura Russa pela Universidade de São Paulo, estuda a obra de Nikolai Leskov. Trabalhou como professor de português do Brasil em Moscou e como tradutor-intérprete em Angola. Para a Editora 34 traduziu Ensaios sobre o mundo do crime, quarto volume dos Contos de Kolimá, de Varlam Chalámov (2016), e Nós, de Ievguêni Zamiátin (2017).
Veja também
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