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Clássicos da literatura | Literatura estrangeira
 

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Teatro completo IV
As Troianas, Ifigênia em Táurida, Íon

 

Eurípides

Tradução de Jaa Torrano
Edição bilíngue

480 p. - 16 x 23 cm
ISBN 978-65-5525-177-7
2024 - 1ª edição

A fumaça de Troia mal sobe aos céus e já suas esposas, mães e filhas são partilhadas entre o exército grego, destinadas a servir a este ou aquele guerreiro. Poucas obras da literatura ocidental têm a carga reflexiva e emocional de As Troianas, de Eurípides, encenada em 415 a.C., e reescrita e reencenada desde então numa prova de sua inexaurível atualidade. Jean-Paul Sartre viu nela uma denúncia veemente de todo poder colonizador; outros a tomam como a peça que dá voz aos oprimidos, encarnados nas magistrais figuras femininas de Hécuba, Andrômaca e Cassandra.

Ifigênia em Táurida e Íon, as duas peças que também integram este volume de traduções e ensaios de Jaa Torrano, põem em relevo o caráter ambíguo das relações familiares, quando sobre elas incide a ação dos Deuses. Na primeira, Ifigênia, jovem sacerdotisa de Ártemis, deve sacrificar todos os estrangeiros que aportam em Táurida, sem saber que um deles é precisamente seu irmão Orestes. Em Íon, a contradição está instalada no personagem de mesmo nome, que serve com devoção no templo de Apolo, em Delfos, ignorando que este é seu pai e o gerou num ato de violência.

Este quarto volume do Teatro completo de Eurípides reafirma a incrível capacidade do dramaturgo grego de trazer à luz, com sutileza e precisão, os múltiplos movimentos da alma humana.

Eurípides, Teatro completo, estudos e traduções de Jaa Torrano:

Vol. I: O Ciclope, Alceste, Medeia (2022)

Vol. II: Os Heraclidas, Hipólito, Andrômaca, Hécuba (2022)

Vol. III: As Suplicantes, Electra, Héracles (2023)

Vol. IV: As Troianas, Ifigênia em Táurida, Íon (2024)

Vol. V: Helena, As Fenícias, Orestes (a sair)

Vol. VI: As Bacas, Ifigênia em Áulida, Reso (a sair)


Texto orelha

Eurípides é um dos três grandes dramaturgos gregos, junto com Ésquilo e Sófocles. A Editora 34 dá prosseguimento à edição bilíngue do Teatro completo de Eurípides com estudos e traduções de Jaa Torrano, apresentando neste quarto volume as tragédias As Troianas, Ifigênia em Táurida e Íon, seguindo a cronologia consensual da produção literária deste autor.


As Troianas retratam os desdobramentos após a vitória grega na Guerra de Troia, especialmente no que diz respeito ao destino das mulheres. A trama destaca a dolorosa realidade enfrentada por Hécuba, outrora rainha troiana, agora destinada a servir Odisseu, um dos vitoriosos. Além de Hécuba, outras mulheres, como Andrômaca, viúva de Heitor, e Cassandra, adivinha troiana amaldiçoada por Apolo, compartilham o destino cruel de serem tratadas como espólio de guerra e distribuídas entre os conquistadores gregos. Nem sequer a grega Helena escapa à fúria dos vencedores, sendo acusada de ser a causadora da guerra. No entanto, o desenrolar da ação trágica, ao retratar a retaliação dos gregos contra Troia como desproporcional e injusta, prenuncia a inevitabilidade da justiça divina, uma vez que os próprios gregos vitoriosos, cedendo ao desejo de violência e de injustiça durante a conquista de Troia, parecem forjar seu próprio destino de sofrimento.


A tragédia Ifigênia em Táurida coloca em cena a jovem Ifigênia, filha de Agamêmnon, líder da expedição grega contra Troia. Dada pelo pai em sacrifício à Deusa Ártemis para que as naus gregas pudessem partir para a guerra, foi salva pela Deusa, que a trocou por uma corça e a transportou à distante Táurida, fazendo dela sua sacerdotisa. Longe da família, Ifigênia, cumprindo as leis locais, desempenha a função de sacrificar a Ártemis os gregos aportados nessa terra. Eis que seu irmão, Orestes, e o fiel companheiro deste, Pílades, aportam em Táurida com a missão, dada pelo oráculo de Apolo, de ir buscar o ídolo de Ártemis caído do céu, como forma de expiação do matricídio e libertação das Erínies. Ifigênia vê-se, portanto, diante da tarefa de sacrificar os recém-chegados estrangeiros, sem perceber que um deles é seu próprio irmão. E, assim, no desenrolar dos acontecimentos, em que se desenvolvem temas como o do sacrifício de vítimas humanas, a questão da justiça se deixa entrever na intrincada relação entre Deuses e mortais.


Em Íon, o personagem homônimo é filho de Apolo com a princesa ateniense Creúsa, com quem o Deus forçou núpcias. Abandonado à morte, Íon foi salvo por Hermes e deixado no templo de Apolo em Delfos, onde, sob os cuidados da profetisa pítia, foi criado. Nesse ínterim, Xuto, aliado militar de Atenas, desposa Creúsa, mas, sem filho após longo tempo de casamento, decide consultar o oráculo de Apolo, em que Íon, desconhecedor da identidade de seus pais, vive como um dos servidores do templo. Confrontando-se uns com os outros, os personagens desta tragédia repleta de reviravoltas são levados a confrontar também o impasse advindo da impossibilidade de compreender um aspecto desconcertante dos Deuses — no caso, a sedução de Creúsa por Apolo e o aparente abandono do próprio filho — bem como da relação entre os Deuses e a justiça reivindicada pelos mortais.


 


Beatriz de Paoli


Departamento de Letras Clássicas da UFRJ


Sobre o autor
Eurípides nasceu por volta de 480 a.C. na ilha de Salamina, filho de Mnesarco, um proprietário de terras. Junto com Ésquilo e Sófocles foi um dos três grandes autores da tragédia clássica grega. Sua estreia num concurso teatral ocorreu em 455 a.C., ano da morte de Ésquilo. Das 93 peças que lhe são atribuídas, chegaram até nós dezenove, oito das quais datadas com precisão: Alceste (438 a.C.), Medeia (431 a.C.), Hipólito (428 a.C.), As Troianas (415 a.C.), Helena (412 a.C.), Orestes (408 a.C.), Ifigênia em Áulis e As Bacantes (405 a.C.). Três delas foram representadas postumamente em Atenas: Ifigênia em Áulis, Alcméon em Corinto e As Bacantes. Morreu em 406 a.C., na Macedônia, para onde teria se transferido a convite do rei Arquelau.



Sobre o tradutor
José Antonio Alves Torrano (Jaa Torrano) nasceu em Olímpia, SP, em 1949. Após morar em Orindiúva e Catanduva, mudou-se para São Paulo em 1970, onde lecionou português e filosofia em curso supletivo, fez a graduação em Letras Clássicas (Português, Latim e Grego) na Universidade de São Paulo entre 1971 e 1974, e tornou-se auxiliar de ensino de Língua e Literatura Grega na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP em 1975. No Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas desta universidade defendeu o mestrado em 1980, o doutorado em 1987 e a livre-docência em 2001. É autor de livros de poesia e de ensaios, e publicou traduções de Hesíodo, Platão, Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Desde 2006 é professor titular de Língua e Literatura Grega na Universidade de São Paulo.


Veja também
Teatro completo I
O Ciclope, Alceste, Medeia
Teatro completo II
Os Heraclidas, Hipólito, Andrômaca, Hécuba
Teatro completo III
As Suplicantes, Electra, Héracles

 


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